Ontem eu disfarcei tudo muito bem, conversei com algumas pessoas na madrugada, tomei o meu calmante e dormi bem. Acordei hoje, quieta por dentro, mas com uma vontade imensa de falar, Seu cheiro ainda esta no meu travesseiro, então comecei a lembrar de tudo, e lembrei, relembrei, e quando vi, já estava apertando minhas unhas contra a minha própria mão e gritando com a minha mãe, eu retrocedi os estágios da perda, e voltei pro de negação, eu não suportei lembrar que eu perdi, que eu talvez errei e as vezes nem enxerguei. De repente minha mãe também começou a gritar e dizer que todo mundo já cansou de me falar as mesmas coisas, que de quem mais eu preciso ouvir que ele não vai mudar? Quando eu já ouvi isso do próprio, e isso me doeu porque era verdade. Então ela me ordenou que eu tomasse meu calmante da manhã e fosse tomar um banho frio.
Todos dizem que eu preciso aceitar, que vai doer agora, mas que eu tenho que sofrer, porque a vida é dura, e eu preciso me manter longe dele porque somos incompatíveis, dizem que não tem mais jeito, que não ha volta. Perguntam como eu me sinto sempre sendo o segundo plano, e se é um cara assim que eu quero que seja os pais dos meus filho, me enchem de perguntas, parecendo enfiar uma broca no meu cérebro, e tudo isso me afunda em desespero, angustia e raiva, mas acho que é isso que eles querem, que eu sinta algo que não seja por ele, seja por mim, pra ver se eu acordo, se eu levanto da cama, se entendo que se eu quiser continuar a viver eu tenho que comer (mas eu não quero), que eu
preciso sair e conhecer outras pessoas. Mas eu não faço nada disso, eu não sei porque eles não entendem, eu não sei você não entende. Parei de escrever quando meu celular vibrou, era você, me arranhei pra não responder, porque eu já perdi a vontade de falar tudo que eu queria falar no começo do dia, e eu só queria responder algo que fizesse você correr e vir me ver, pra que assim eu pudesse te trancar de novo na minha casa, esconder as chave do seu carro e te obrigar a ficar o resto do dia e a noite inteira comigo. Mas eu não disse nada, não fiz nada.
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